O tempo de resposta das empresas diminuiu drasticamente nos últimos anos. Em um mercado cada vez mais competitivo, com restrições de oferta de insumos e preços das commodities em movimento de volatilidade no mercado internacional de grãos, a incerteza e os riscos são cada vez mais presentes nas decisões de qualquer empresa, de qualquer setor.
Gestores e líderes sabem que fazer boas e rápidas decisões é desafiador até mesmo no melhor dos cenários. Mas quando você tem uma crise de incerteza que começou na pandemia do Coronavírus e agora se intensifica pelo conflito na Ucrânia, que chegou em uma velocidade esmagadora e uma escala global, as empresas se vêem diante de grandes apostas: decisões em cenário desconhecido e de altíssimo risco. Muitos negócios ainda operam em modo de crise, ou seja, muitas das decisões táticas são para tentar, de forma simples, manter a empresa aberta. E um aspecto fundamental de tudo isso é otimizar os seus custos.
O setor de nutrição animal e humana, seja de food service ou pet food, com certeza foi um dos mais afetados nesse período. Muitos dos ingredientes básicos utilizados na produção, como o milho e outros grãos, tiveram um crescimento de preço acima dos níveis históricos nos últimos dois anos. Essa dinâmica influenciada pela desvalorização do real que atraiu mais demanda externa à nossa produção local forçou, inclusive, muitas empresas a absorverem os custos de produção e trabalharem com margens apertadíssimas – tentando ao máximo não passar ao consumidor final este aumento dos preços.
Essa estratégia pode funcionar bem com empresas de médio e grande porte que possuem até mesmo posição de estoque favorável para ciclos de produção mais longos. Entretanto, esse aumento dos preços das matérias-primas teve um impacto mais negativo nos fabricantes de menor porte, que não podem contar com economias de grande escala para garantir margens constantes. Ou seja: o setor só cresce, pois a demanda por ração animal e alimentos continua crescendo, mas as margens estão cada vez menores em função do aumento dos custos de produção puxado pela alta de preço das principais matérias-primas. Em entrevista para Istoé, o presidente da Abinpet, José Edson Galvão de França, ressaltou o aumento de 70% nos custos de grãos e mais de 160% em proteínas animais e reforçou que as empresas estão no limite de sua lucratividade.
Além disso, quando analisamos a indústria global de alimentos, a alta das despesas operacionais foi muito impulsionada pelo aumento do custo de alimentação dos animais que – de novo! – foi puxado pela alta de preços de matérias-primas. Como vimos em outros artigos, sabemos que nutrição e formulação são fatores-chave para decisões gerenciais e possuem fatores que impactam qualidade, custos e economias no processo produtivo.
O impacto da pandemia foi grande e o conflito agora na Ucrânia aumentou a incerteza do setor. Embora ainda fique difícil dizer quando e em qual medida iremos retomar a cenário mais estável, existe uma oportunidade que muitas empresas estão encontrando uma solução: otimizar as formulações, maximizar a valorização de matérias-primas e simular diferentes cenários estratégicos e alternativos que antecipem tendências de mercado (como aumento ainda maior do preço de determinadas matérias-primas). Separamos abaixo 5 dicas para otimizar suas formulações que podem auxiliar na diminuição dos seus custos de produção:
1. Considere alimentos alternativos para a composição do produto
Sabemos que nem sempre é simples definir o que seria um alimento alternativo, quem dera usar no processo produtivo. Entretanto, quando consideramos que o princípio básico da formulação é o balanceamento dos ingredientes que atenda os requisitos nutricionais para uma nutrição ótima, um alimento alternativo pode ser entendido como uma matéria-prima que não é usada na fórmula de maneira regular, tem, sim, uma variação nutricional, mas que possa ser considerado na formulação.
A estratégia inicial pode se basear tanto na substituição total ou parcial das matérias-primas que mais estão pressionando o preço da formulação. Softwares como o Optimal Formula e o Optimal FormulaPlus mostram rapidamente para os formuladores quais são os pontos de pressão na fórmula e o custo de oportunidade (também chamado de custo marginal ou shadow cost) que teria para essas matérias-primas. Logo, a flexibilidade de alteração da composição pode trazer impactos imediatos para diminuição dos custos.
Vale ressaltar, porém, alguns pontos quando trabalhamos com formulações abertas. Quando considerar matérias-primas alternativas, não se esqueça:
- Verifique os valores nutricionais das matrizes dessas matérias-primas, pois elas podem ter um coeficiente de variação maior em termos de composição por serem, em muitos casos, subprodutos – se puder confirmar em laboratório, melhor ainda;
- Siga sempre as recomendações em relação a correta taxa de inclusão dos ingredientes na formulação. Ingredientes derivados e subprodutos, por exemplo, podem ter níveis de digestibilidade diferentes das matérias-primas utilizadas, assim, garantir que o produto atenda corretamente as especificações definidas é crucial para manter a qualidade do produto acabado e evitar perda de performance no campo.
Evidentemente que existem outros fatores que também são relevantes: palatabilidade, segurança alimentar, armazenamento correto, disponibilidade do fornecedor, impactos no processo de peletização ou extrusão, entre outros. A ideia é que o formulador, em conjunto com áreas de qualidade, produção e compras, possa identificar rapidamente oportunidades de uso de matérias-primas e definir composições de produtos que não prejudiquem a performance de quem os consome, ao mesmo tempo que reduza os custos de alimentação e produção.
2. Conheça o preço ótimo que torne insumos economicamente viáveis
Uma outra estratégia que pode ser utilizada para diminuir os custos é conhecer qual o preço ótimo de dada matéria-prima que maximize o resultado da minha formulação (ou seja, diminua os custos) e que ainda atenda aos níveis de garantia desejados. O preço ótimo é uma excelente ferramenta que pode ser usado por áreas de compras seja em renegociação de contratos com fornecedores atuais ou até mesmo na aquisição de novas matérias-primas.
Do ponto de vista matemático, o preço ótimo vai refletir qual seria o custo para adquirir ou manter o uso de um ingrediente na produção que torne a solução viável e que seja o valor mais favorável da função-objetivo, isto é, que minimize os custos de totais de formulação. Ao utilizar softwares de formulação, você pode identificar esses preços ótimos não só para ter um melhor amparo de negociação para aquisição de novas matérias-primas, mas para ter uma gestão de custos mais eficiente e previsível que antecipem movimentos e tendências de mercado. Sabendo o quanto você pode pagar, ou até que preço pode chegar, você tem uma ferramenta de inteligência de negócios de alto impacto para gestão de suprimentos.
3. Avalie e qualifique fornecedores para diminuir variabilidade
Como vimos em post anterior sobre a conexão de gestão da qualidade e formulação, um dos pontos econômicos que mais impactam a formulação é a variabilidade de composição química das matérias-primas. Um aumento de variabilidade pode resultar em uma inclusão de determinado nutriente maior do que o necessário – ou seja, haveria um “excesso” de matéria-prima que não seria necessário para atender ao requerimento nutricional exato.
Essa estratégia de se trabalhar com maior precisão e velocidade de informações nutricionais dos alimentos é extremamente útil, embora possa se tornar complexa. Por esse motivo, ferramentas de gestão de amostras e estatísticas de resultados analíticos como o Labinfy facilitam muito a operacionalização desse processo, dando maior eficiência e produtividade aos gestores.
Uma vez que você consiga manter melhores controles, limites de tolerância e histórico de insumos utilizados nos lotes de produção, você consegue obter melhores vantagens referentes à exigência de qualidade e renegociação de preços e contratos para variabilidade acima do esperado. Observando, por exemplo, a média e desvio padrão entre dois fornecedores de determinado ingrediente, você consegue estabelecer qual está oferecendo a você qualidade constante que impacta em menor variabilidade de nutrientes. Lembra da margem de segurança (o famoso coeficiente de 💩) que usamos na fórmula, seja ela aplicada na matriz nutricional ou então nos níveis de garantia? Conhecendo bem o seu fornecedor, você pode diminuir essa margem e, com gráficos de controle, identificar se existe muitos outliers e o intervalos de confiança mais confiáveis.
Suponha que você queira avaliar o nível de Proteína Bruta do farelo de glúten de milho e, para isso, faça análises no NIR das amostras recebidas no pátio. Você observa que o Fornecedor A tem 30 amostras, com PB médio de 67,2% e desvio padrão de 2,9%. Enquanto isso, o Fornecedor B tem as mesmas 30 amostras, só que PB médio de 75% e 1,4% de desvio padrão. Em poucas palavras, o Fornecedor B está tendo menor variabilidade, logo espera-se maior qualidade e, possivelmente, preços maiores – agora, se eu utilizar o produto do Fornecedor A na minha formulação, será que eu consigo ainda ter um produto viável e diminuir os custos totais?
Bem, a construção de simulações e cenários estratégicos na formulação aliados a melhores controles de qualidade, possibilitam você conhecer a fonte e o fornecedor de maneira mais efetiva, além de conseguir traçar perfis de nutrientes precisos utilizados em produção durante um período de tempo. Com menor variabilidade, você pode evitar a utilização de níveis mais baixos de inclusão como medida de segurança e ter um produto produzido cada vez mais próximo do formulado. Lembrando que aqui só estamos citando impactos na formulação, existem outros mecanismos que podem ser igualmente eficazes, como renegociação de contratos, extensão de prazos de pagamentos, diminuições de risco de mercado, entre outros que impactam em eficiência de custos.
4. Antecipe tendências e movimentos de mercados com análises paramétricas
Dentre tudo que falamos aqui, uma coisa é certa: a única constante em que as empresas podem confiar é a mudança. Elas ocorrem cada vez mais rapidamente e ficou mais desafiador identificar as tendências de mercado que afetam seu negócio específico – a pandemia e o conflito na Ucrânia mostraram isso. Assim, poder antecipar e identificar uma evolução de preços e, a partir desse movimento, qual será sua posição de compras para gestão de estoque, definir suas estratégias de produção e aprimorar suas posições de insumos muitas vezes determina os rumos dos negócios e pode garantir um futuro mais sustentável.
Para o formulador, esse processo pode parecer mais complexo do que o esperado. Entretanto, os principais softwares de formulação do mercado, como os da Optimal, possuem as Análises Paramétricas, que permite fazer uma estimativa de custo total da formulação relacionado aos parâmetros nutricionais (níveis de garantia) que viabilizam o produto final. Ao realizar esses estudos, você poderá verificar os impactos que a oscilação de preço de um determinado ingrediente traz no consumo e composição do seu produto ou, melhor ainda, do seu lote de produção consolidado. Suponha que o Mercado Futuro do Milho aponta um crescimento do preço das ingredientes derivados dessa commoditie, você pode definir um preço inicial, um preço final e um incremento entre eles para que o software faça diversas reformulações, trazendo para você qual o consumo de matéria-prima e o custo de formulação para que variação de preço.
Essa análise permite que você determine mais rapidamente quais são os cenários que entregam para empresa a composição de consumo do lote a ser produzido que seja o mais lucrativo a dado preço. Assim, você pode determinar a qual preço a matéria-prima deixa de ser economicamente viável e você possa utilizar uma alternativa que entregue resultados superiores e mantenha a qualidade final. Ao se trabalhar com o departamento de compras, a estratégia de suprimentos torna-se mais previsível e com mecanismos de planejamento e controle de produção mais eficazes e com maior eficiência de custos no decorrer do tempo.
5. Faça um planejamento de estoque mais eficiente
No item acima, falamos um pouco de como conseguimos criar cenários alternativos e estratégias que auxiliem formuladores e empresas a definirem melhor os níveis de consumo e composição de produtos que sejam os mais rentáveis possíveis. Bem, na busca por reduções de custo, podemos traduzir esta tarefa em uma palavra: planejamento. Ao criarmos estes cenários e saber exatamente o impacto nas nossas operações, antecipamos acontecimentos de maneira mais precisa, garantindo que os planos táticos-operacionais sejam mais eficientes e integrados entre as áreas.
Ao saber os níveis de consumo previstos para diferentes cenários de oscilação de dada matéria-prima, a empresa consegue definir de maneira mais adequada o seu nível de estoque para uma produção mais enxuta e eficiente. Se estendermos a gestão de estoque para vendas, a previsibilidade traz também o conhecimento de quanto a sua empresa ganhará em um determinado período de tempo e quais seriam os esforços para captar oportunidades adicionais (como por exemplo, qual seria a ação para diminuir o uso de um insumo e aumentar em outro que seja mais economicamente viável).
De maneira resumida, com (re)otimizações na formulações você consegue criar diferentes cenários e montar estratégias que melhor se adequa a eles, otimizando também os recursos da empresa, diminuindo prejuízos com perdas ou sobras de insumos e maximizando os custos de oportunidades de matérias-primas – sejam elas alternativas ou já usadas na formulação.
“Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”
Sabemos que o papel do formulador está cada vez mais amplo e acaba tendo uma grande intermediação com outras áreas da empresa: qualidade, produção, comercial, compras, pós-vendas, corporativa, entre outros. Isso porque a formulação, e o processo de otimizá-la, para impulsionar os resultados da empresa, está cada vez em um nível mais estratégico para a empresa, trazendo a ela ferramentas importantes para que se mantenha cada vez mais competitiva.
Tomar decisões em meio à certeza já não é fácil, imagina então na incerteza. Com a necessidade de termos tempos de resposta mais rápidos e decisões mais assertivas, o processo que envolve todas as variáveis da formulação pode ser revisitado por cada área da empresa para criação de estratégias que vão auxiliar o negócio a passar por períodos instáveis de maneira mais rápida e sustentável. Essas cinco ideias de criar melhores estratégias para eficiência de custos usando inovações e softwares de inteligência de negócios e dados irão ajudar na competitividade no mercado, redução dos custos e contribuirão para o desenvolvimento de todo o setor.