A volatilidade de preços das matérias-primas é um desafio significativo enfrentado pela indústria de ração. As matérias-primas utilizadas na produção de rações, como grãos (milho, trigo, soja), subprodutos agrícolas e proteínas de origem animal, estão sujeitas a flutuações de preços no mercado global. Essas flutuações podem ser causadas por uma série de fatores, como condições climáticas adversas, eventos geopolíticos, demanda e oferta de commodities, políticas governamentais, entre outros.

A volatilidade de preços das matérias-primas pode ter um impacto direto nos custos de produção das empresas de nutrição animal. Quando os preços das matérias-primas aumentam, os custos de produção de rações também aumentam, o que pode impactar negativamente a rentabilidade das empresas. Por outro lado, quando os preços das matérias-primas caem, as empresas podem se beneficiar com redução de custos, desde que sejam capazes de ajustar seus preços de venda de forma adequada e preparar as estratégias de estocagem corretas.

Essa volatilidade de preços das matérias-primas cria um ambiente desafiador para a indústria de ração, pois dificulta a previsibilidade e a estabilidade dos custos de produção. As empresas precisam lidar com essas flutuações de preços de maneira estratégica e eficiente para manter sua competitividade no mercado.

Uma abordagem para mitigar o impacto da volatilidade de preços das matérias-primas é implementar estratégias de gestão de risco. Isso envolve a diversificação das fontes de suprimento, a criação de contratos de longo prazo com fornecedores, o monitoramento constante das condições de mercado e a análise de tendências de preços. Além disso, as empresas podem buscar alternativas de matérias-primas, explorar a utilização de subprodutos ou coprodutos agrícolas e investir em tecnologias de processamento que permitam maximizar a eficiência e reduzir o desperdício.

Nesse cenário, a disciplina de custos desempenha um papel crucial, pois permite que as empresas identifiquem áreas onde é possível reduzir despesas e melhorar a eficiência operacional, mesmo diante da volatilidade de preços das matérias-primas. Ao adotar práticas de controle de custos, as empresas podem minimizar os impactos adversos dos aumentos de preços e obter uma vantagem competitiva.

O que é a disciplina de custos?

A disciplina de custos envolve a análise, controle e otimização dos recursos financeiros de uma empresa, com o objetivo de reduzir despesas e maximizar o retorno sobre o investimento. Trata-se de um processo contínuo que requer monitoramento constante das despesas, identificação de áreas de desperdício e implementação de estratégias para minimizar os custos sem comprometer a qualidade ou a produtividade.

As empresas de nutrição e produção animal lidam com altos custos de alimentação e ração, que podem representar uma parcela significativa de suas despesas operacionais. Em tempos de grande oscilação de preços e volatilidade no mercado, ter uma disciplina de custos eficiente se torna ainda mais crucial. A capacidade de controlar e reduzir os custos pode ser a diferença entre uma empresa que prospera e outra que luta para se manter competitiva.

A disciplina de custos possibilita às empresas identificar oportunidades de economia, seja através de negociações mais vantajosas com fornecedores, avaliação de alternativas de matérias-primas mais econômicas, otimização dos processos de produção ou adoção de tecnologias inovadoras que aumentem a eficiência. Ao implementar medidas de controle de custos de forma estratégica, as empresas podem obter uma vantagem competitiva significativa.

A implementação da disciplina de custos precisa ser estratégica e multidisciplinar, ou seja, precisa ser implementada de cima para baixo e ser claro a todos os agentes da empresa a importância de adotar tal prática. Fazendo uma simplificação deste processo, podemos citar algumas etapas importantes para uma disciplina de custos de sucesso:

• Análise detalhada dos custos: O primeiro passo é realizar uma análise minuciosa de todas as despesas relacionadas à alimentação e ração, identificando onde os recursos estão sendo gastos e quais são as áreas com maior potencial de redução de custos.
• Estabelecimento de metas: Definir metas claras e realistas para redução de custos é essencial. Estas metas devem ser específicas, mensuráveis e alinhadas com a estratégia geral da empresa.
• Monitoramento e registro: É fundamental implementar um sistema robusto de monitoramento e registro dos custos. Isso pode ser feito através de planilhas, softwares especializados ou sistemas de gestão integrados. Dessa forma, a empresa terá informações precisas e atualizadas para embasar as decisões. Nesse cenário, os softwares de formulação desempenham um papel crucial – não apenas na organização das fórmulas das rações, mas principalmente na identificação de oportunidades de melhoria e diminuição dos custos.
• Identificação de oportunidades: Uma vez que os custos estejam sendo monitorados, a empresa poderá identificar oportunidades de economia. Isso pode incluir a renegociação de contratos com fornecedores, a busca por alternativas mais econômicas de matérias-primas ou a revisão dos processos de produção para eliminar desperdícios. Iremos falar melhor sobre como a formulação desempenha um papel importante neste processo, mas atente para softwares de otimização de formulação que trazem análises financeiras-econômicas para os formuladores rapidamente verem custos de marginais.
• Engajamento da equipe: A disciplina de custos deve ser uma iniciativa de toda a equipe, desde os funcionários operacionais até a alta gerência. É importante engajar e capacitar os colaboradores, promovendo uma cultura de conscientização e responsabilidade em relação aos custos.

Qual o papel da otimização das formulações quanto à disciplina de custos?

Como vimos anteriormente, a oscilação de preços dos ingredientes na formulação de produtos para nutrição animal pode ter um impacto significativo nas operações das empresas do setor. Os preços dos ingredientes, como grãos, proteínas vegetais e outros aditivos, podem flutuar devido a diversos fatores, como oferta e demanda, condições climáticas, políticas governamentais, custos de transporte, entre outros. Essas flutuações podem afetar diretamente os custos de produção e, consequentemente, os preços finais dos produtos para nutrição animal.

Para mitigar esse problema, as empresas podem adotar algumas estratégias. Acompanhar de perto as tendências e as flutuações de preços dos ingredientes é essencial para se antecipar a possíveis aumentos ou escassez. Isso pode ser feito por meio de análises de mercado, dados históricos, relatórios setoriais e parcerias com consultorias especializadas. Estes dados, a partir daí, podem fazer partes de análises de sensibilidade e paramétricas, que auxiliam inclusive na definição de mix de composição ótimo para diferentes pontos de preços de uma matéria-prima, além de permitir um melhor controle de estocagem dentro da produção.

Além disso, os formuladores de rações podem adotar estratégias de formulação flexíveis, utilizando ingredientes alternativos ou substitutos em caso de escassez ou aumento de preços de algum ingrediente específico. Isso requer um bom conhecimento das propriedades nutricionais dos ingredientes e a capacidade de ajustar as formulações para atender aos requisitos nutricionais dos animais.

Nesse contexto, entre um grande aliado do formulador: o Shadow Cost. O Shadow Cost, ou Custo Marginal, é uma métrica que representa o impacto financeiro de incluir uma unidade adicional de um determinado ingrediente na formulação de um produto para nutrição animal. Ele indica quanto o custo total da formulação diminuirá se houver um acréscimo ou decréscimo específico de um ingrediente que esteja sendo limitado pelo mínimo ou máximo definido na especificação. No jargão da formulação, ele é o famoso “ponto de pressão” da sua fórmula – ou seja, quanto maior o Shadow Cost, maior a influência daquele ingrediente na composição de custos da sua fórmula e, consequentemente, variações na inclusão dele trazem maiores economias.

O Shadow Cost considera não apenas o preço do ingrediente, mas também os efeitos que sua inclusão terá sobre outros ingredientes e as interações nutricionais. Dessa forma, o formulador pode determinar a quantidade ótima de cada ingrediente levando em conta o custo marginal, ou seja, o quanto a fórmula ficaria mais barata com a flexibilidade de inclusão de uma unidade a mais desse ingrediente específico.

Ao utilizar o conceito de Shadow Cost, os formuladores podem identificar os ingredientes mais econômicos e otimizar as formulações para minimizar os custos de produção, levando em consideração os requisitos nutricionais dos animais. Isso permite tomar decisões mais informadas sobre a seleção de ingredientes, considerando não apenas o preço individual de cada um, mas também seu impacto global na formulação.

Vamos dar um exemplo para ilustrar melhor:

• Suponha que você seja um formulador de rações e esteja considerando aumentar em um 1 ponto percentual a inclusão de um determinado ingrediente na sua formulação. O Shadow Cost desse ingrediente é o custo que será deduzido ao adicionar essa quantidade extra.
• Para calcular o Shadow Cost, compara-se o custo total da formulação atual (sem o acréscimo de 1 p.p. do ingrediente) com o custo total da formulação modificada (com o acréscimo de 1 p.p. do ingrediente). A diferença entre esses dois custos representa o Shadow Cost.
• Se o Shadow Cost for baixo, significa que a economia de custo para incluir mais uma unidade desse ingrediente é relativamente baixa em relação aos benefícios obtidos. Por outro lado, se o Shadow Cost for alto, indica que a economia de custos é significativa, ou seja, está aí um ponto de atenção que o formulador precisa se atentar.
• No exemplo abaixo, na formulação de ração para Frangos de Corte Inicial, foi identificado um custo marginal alto para a Lisina. Originalmente, a especificação indicava um mínimo de 1,09%. No entanto, por meio de simulações e estudos, o formulador constatou que utilizar 1,07% não afetaria a performance dos animais. Ao realizar essa reformulação, a alteração de apenas 0,02 p.p. resultou em uma redução de custos de 0,5% na formulação total. Essa economia, quando multiplicada por toneladas, dias, semanas, meses e anos, representa uma significativa economia acumulada para a empresa.

• Sabemos que muitos premixes e microingredientes de inclusão fixa não podem ser alterados – mas outros ingredientes, principalmente coprodutos e commodities, você pode ter uma flexbilidade maior de alterar as inclusões.
• Lógico que outros elementos como perfil de matéria-prima e impacto na produção precisam ser levados em conta, mas o Shadow Cost é importante para os formuladores de rações, pois permite otimizar as formulações e encontrar o ponto ideal em termos de custo e nutrição. Ao comparar o Shadow Cost de diferentes ingredientes, é possível identificar quais são os mais eficientes em termos econômicos, levando em conta seus benefícios nutricionais.

Assim, o formulador pode tomar decisões informadas sobre a inclusão de ingredientes na formulação, considerando não apenas o preço individual de cada um, mas também seu impacto no custo global da ração. Isso ajuda a controlar os custos de produção e buscar a eficiência na formulação dos produtos para nutrição animal.

Conclusão

Em um setor onde os custos de alimentação e ração são altos e sujeitos a oscilações de preços, a disciplina de custos desempenha um papel fundamental para as empresas de nutrição e produção animal. Ao adotar uma abordagem estratégica para analisar, controlar e otimizar seus recursos financeiros, essas organizações podem alcançar maior eficiência operacional e uma posição mais competitiva no mercado.

Começar a implementar uma filosofia de disciplina de custos exige análise detalhada, estabelecimento de metas, monitoramento constante, identificação de oportunidades e engajamento de toda a equipe. Com a disciplina de custos como aliada, as empresas do setor estarão melhor preparadas para enfrentar os desafios financeiros e impulsionar o sucesso a longo prazo.