Vimos em artigos passados aqui no blog da Optimal, o impacto que os preços internacionais das commodities alimentares trazem para o setor de nutrição e produção animal, tanto no processo de reformulação dos produtos, quanto na necessidade de uma visão macro sobre a gestão de custos. Se isolarmos o elo entre a formação de preços agroalimentares internos e os preços internacionais de matérias-primas com base em commodities, a intensificação da volatilidade que iniciou-se em 2020 trouxe um desafio extra para empresas produtoras de alimentos, seja para consumo humano ou para animais de produção ou estimação.

Evidentemente que a composição de custos alimentares ou de produção de alimentos não se resume apenas ao componente básico citado acima, envolve muitos outros como o escoamento da produção, custos variáveis, embalagem, mão de obra, entre tantos outros. Hoje, porém, quero focar apenas nessa vertente de formação dos preços para conversarmos sobre uma estratégia muito utilizada no mundo financeiro que se chama análise de cenários.

O setor de produção de alimentos historicamente enfrenta uma pressão muito grande em suas margens, sendo que muitas empresas costumam batalhar na economia de centavos e décimos – que, quando expandida para a tonelagem de produção, torna-se um montante significativo. Em mercados cada vez mais competitivos, com mais entrantes e um mercado consumidor crescente e mais exigente, observamos um achatamento das margens que exige redução de custos sem, no entanto, afetar a qualidade do produto acabado.

Neste sentido, antecipar tendências de mercado e ter diferentes estratégias para uma tomada de decisão mais rápida e assertiva, torna-se uma estratégia interessante para criar planos de ação que permitam às empresas a se diferenciarem e crescer em momentos de mudanças. Atuando com mais previsibilidade e com mecanismos de prevenção a fatores negativos que as influenciam, empresas de alimentos podem direcionar suas estratégias para aquilo que tenha sucesso no curto prazo.

E pensando nisso, criamos esse artigo para mostrar como a Análise de Cenários pode ser uma ferramenta de planejamento estratégico poderosa. Para isso, vamos utilizar o exemplo da oscilação de preços dos insumos de commodities e o entendimento que eles impactam diretamente no nível de composição e custo final dos produtos acabados.

O que é a Análise de Cenários?

A Análise de Cenários é um processo já bem difundido e utilizado, principalmente em finanças corporativas, para avaliação da influência das variáveis econômicas no negócio. De maneira resumida, é um processo de examinar e avaliar possíveis eventos que podem ocorrer no futuro e prever os vários resultados viáveis ou possíveis. Se pensarmos em um modelo matemático, a Análise de Cenários é utilizada para estimar ou antecipar possíveis mudanças no valor ou resultado final quando ocorre a alteração de uma variável que pode favorecer ou desfavorecer as atividades da empresa.

Muitos profissionais utilizam dessa estratégia para ter um processo decisório que permite avaliar diferentes cenários que eles podem encontrar no futuro, antecipando eventos bons e ruins que impactem em lucros ou perdas potenciais. Trazendo esse conceito para a modelagem de formulação, que já discutimos nesse artigo anteriormente, estamos diante de 2 grandes vertentes de variáveis:

1) Dos ingredientes ou alimentos que serão utilizados

2) Das especificações da fórmula

Da segunda, nutricionistas, pesquisadores, zootecnistas, veterinários e formuladores acabam tendo menos flexibilidade de alteração, uma vez que estamos trabalhando a nível de requerimentos nutricionais e os níveis de garantia. Agora, quando falamos sobre os insumos, temos variáveis de disponibilidade na produção, custo de aquisição e suas respectivas matrizes nutricionais que impactam no resultado final da otimização.

Ao analisar os impactos que cada uma dessas variáveis trazem para empresas produtoras de alimentos, a formulação torna-se um elemento crucial para antecipar tendências e criar estudos futuros de cenários. São todos pontos que impulsionam os resultados financeiros das empresas, por esse motivo que o processo de formulação da indústria carrega uma importância estratégica: as premissas do modelo dependem de várias pessoas, internas e externas à organização, e impactam diretamente as margens de lucro de cada negócio.

Costumamos iniciar a Análise de Cenários traçando 3 simulações principais – para ficar mais claro o impacto das variáveis da formulação, e fazer o paralelo com a introdução de commodities que fizemos antes, vou utilizar o custo de matéria-prima como exemplo:

• Cenário base: é o cenário de partida, considerando as premissas atuais de gestão. Como por exemplo, o custo atual de aquisição de matéria-prima ou ingrediente para produção.
• Cenário pessimista: considera o resultado mais grave que pode acontecer com determinada situação. Nesse exemplo, a alta dos preços para aquisição de dado insumo.
• Cenário otimista: na contramão do cenário anterior, essa seria a simulação de um cenário que todos os objetivos são atingidos. No caso, podemos considerar a estabilização da demanda no mercado global e a consequentemente diminuição dos preços das commodities alimentares.

Construir cenários em qualquer modelo é um exercício importante para ajudar qualquer profissional a modelar e planejar as incertezas que poderá encontrar. Ao listar as suposições para as quais você deseja criar cenários, definir os detalhes de cada e analisar os resultados encontrados, você poderá ter uma visão mais ampla dos riscos que pode enfrentar e explorar casos diferentes do que poderia implementar para enfrentá-los.

Na indústria de alimentos, que possui uma busca incessante pelas melhores margens, otimizando recursos e mantendo a qualidade e segurança daquilo que se produz, essa pode ser uma boa ferramenta para sempre estarmos preparados para mudanças (ou pelo menos saber como agir mais rapidamente).

Benefícios da Análise de Cenários

Como vimos anteriormente, o grande benefício da Análise de Cenários é trazer maior previsibilidade para os planejamento estratégicos e permitir que tomemos decisões mais rápidas e com maior assertividade. Para empresas de alimentos, saber o que poderia acontecer com os seus produtos em diferentes situações futuras pode ajudar na:

• Definir políticas de estoque que permitem antever problemas
• Criar novas receitas que serão introduzidas no mercado
• Antecipar preços de equilíbrio para aprimorar o planejamento da produção
• Testar matérias-primas alternativas frente aos parâmetros de segurança e qualidade
• Saber como melhor posicionar o seu produto no mercado
• Ter decisões informadas de investimentos com base em probabilidade e tendência de mercado observada
• Projetar retornos e resultados financeiros da operação para um planejamento estratégico e orçamentário mais eficaz

Exemplo prático da Análise de Cenários

Como vimos anteriormente, as mudanças que ocorrem no mundo inteiro impactam as empresas constantemente. Incertezas, oscilações, vulnerabilidade, velocidade das transformações e quantidade sem precedentes de dados aumentam a necessidade de criarmos uma prospecção de futuro, visando preparar gestores para eventuais surpresas que eles encontrem. Nesse contexto, falamos um pouco do conceito da Análise de Cenários e como a indústria de alimentos pode se beneficiar dela.

Na prática, as empresas podem estabelecer os cenários usando de diversas ferramentas em seu planejamento estratégico: modelo Delphi, as forças de Porter, análise PESTEL, a famosa análise de SWOT, entre outras. Para deixar mais claro, vou utilizar uma ferramenta que auxilia bastante na criação de cenários que pode ajudar a construir estratégias que dão o suporte que as empresas precisam para tomar decisões de maneira efetiva: as Análises Paramétricas.

Conhecida também como Análise de Sensibilidade, a Análise Paramétrica é o estudo da influência de um parâmetro na solução ou resultado de um problema. Em outras palavras, as Análises Paramétricas são uma importante ferramenta para que o formulador avalie o impacto que a variação de uma determinada variável do modelo de formulação traz no resultado final da solução.

Considerando que a função objetivo do modelo de formulação é criar um produto que atenda a todos os parâmetros e requerimentos nutricionais ao menor custo possível – ou seja, maximizando seus lucros -, vamos considerar a variável preço como exemplo. A Análise Paramétrica vai procurar determinar o efeito da variação de preço de um determinado ingrediente no valor total da formulação e no nível de composição da mistura.

Ou seja, ela torna-se uma ferramenta para que o formulador possa definir limites mínimos e máximos de variação, propor um incremento de variação e re-otimizar o seu produto para conferir diferentes cenários existentes. Com isso, ele pode analisar as tendências de operações a termo disponíveis e antecipar movimentos de flutuação de preços de matérias-primas, já propondo para áreas de suprimentos e PCP possíveis estratégias de estoque que mantenham os resultados financeiros e a qualidade do produto acabado.

Veja o exemplo abaixo. Nele, estamos formulando um lote de produção com 9 produtos (utilizei como exemplo esses produtos para cães e gatos) que, considerando suas previsões de produção para o período, totalizam 165 toneladas de produção. Partindo do consumo consolidado de matérias-primas, vamos fazer um exemplo utilizando uma possível oscilação do preço do Milho – aqui estou criando uma variação de R$ 1,00 no custo por tonelada dessa matéria-prima, ou seja, partindo de R$ 1,50 até R$ 2,50. Para isso, estou definindo que gostaria de analisar diferentes cenários para incrementos de R$ 0,05 na oscilação do preço do Milho.

Partindo desse cenário, o modelo de formulação vai re-otimizar sua fórmula 21 vezes com os diferentes níveis de preço definidos, sempre mantendo as restrições do parâmetro – de níveis de inclusão dos ingredientes e de requerimentos nutricionais. Essa é uma ferramenta que permite daí analisar como essa variação vai afetar a solução final – por isso que também é conhecido como “e se”, pois parte do pressuposto que você está prevendo resultados a partir de mudanças em uma variável que afetam o resultado.

É nesse momento que temos os diferentes cenários para analisar. Basicamente, temos uma visão geral de como a empresa pode se preparar, seja do ponto de vista de suprimentos e estoque ou de impacto nos processos produtivos. Veja que cada coluna representa um cenário para o preço do Milho – dentro dos diferentes incrementos de preços, temos ali o nível de inclusão dos ingredientes na minha produção e abaixo o impacto que vou ter no custo total de formulação para cada produto. Lembrando que os aspectos que limitam a combinação de valores e variáveis de soluções possíveis não se alteram – seja a inclusão fixa de ingrediente ou as relações nutricionais, como de aminoácidos ou Calcio-Fósforo, que definimos para as fórmulas.

Isolando apenas o Milho, construímos um gráfico para analisar a quantidade em % de inclusão dessa matéria-prima conforme a variação de preço. Evidente que quanto maior o preço da matéria-prima, caso existam eventuais substitutos que entreguem a mesma quantidade, a tendência é haver a diminuição de uso. Entretanto, esse exemplo serve para sabermos com maior precisão o exato momento que dado ingrediente não é mais economicamente viável para minha produção, que pode trazer outros impactos financeiros indiretos, que vão desde menores custos de estocagem, melhor alocação de recursos e priorização das demandas relacionadas às atividades de qualidade.

Veja que quando o milho está custando R$ 1,50 o nível de inclusão dele é de 49,17%. Quando atinge R$ 1,80 já diminui para 21,71%. Ou seja, considerando a tonelagem de 165 como total, estamos falando de uma diminuição absoluta de, aproximadamente, 82 para 36 toneladas. O importante é que o formulador pode ir acompanhando para cada cenário qual seria a quantidade ideal e, a partir disso, auxiliar PCP a tomar decisões relacionadas a suprimentos mais assertivas.

Vale ressaltar que a Análise Paramétrica e a otimização do modelo de formulação estão intimamente interligadas. Cada cenário encontrado pela análise é fruto da re-otimização do modelo que visa encontrar o equilíbrio ótimo entre as especificações definidas pelo formulador com o menor custo possível. Um exemplo disso é: suponha que a diminuição do nível do Milho fez com que outro ingrediente subisse – no exemplo anterior, atente para o Arroz Quirera. Entretanto, ao atingir o nível máximo de estoque do Arroz, a própria paramétrica não pode mais incluir ele em função da restrição de estoque adicionada. Logo, o Milho volta a ter o seu nível de inclusão aumentado. Ou seja, a reotimização sempre vai continuar considerando todas as restrições definidas nas especificações da sua fórmula.

Conclusão

Acredito que toda empresa reconhece que o planejamento estratégico, seja de curto, médio e, principalmente, de longo prazo é essencial para continuarmos competitivos e entregando cada vez mais qualidade e valor para os clientes – fora que torna-se um direcionamento para guiar as empresas nas decisões que ela toma. A estratégia então é elaborada com base na percepção de questões futuras e nas capacidades que as pessoas têm de identificar oportunidades e ameaças.

Sabendo disso, é aí que a Análise de Cenários vira uma poderosa ferramenta. Esse planejamento onde podemos antecipar tendências e movimentações que nos auxiliem a identificar oportunidades de ganho proporciona uma gestão mais assertiva, pautada por dados e com foco em resultados.

Em um momento em que a vulnerabilidade tornou-se algo corriqueiro nas organizações, com mutações na política, economia, legislações e muitos outros, já entender a influência que uma das principais variáveis da formulação (o preço das matérias-primas) traz para o nível de composição dos produtos vira um instrumento único. Simular e analisar os diversos cenários que possibilitam adotar matérias-primas alternativas, otimizar os níveis de suprimentos e renegociar preços com fornecedores, tudo sem alterar a qualidade do produto formulado, torna-se imprescindível para alcançar objetivos almejados.

Evidente que o modelo de formulação traz diversas variáveis e as possibilidades que a própria reformulação trazem são gigantes. O conceito em si da Análise de Cenários vem para auxiliar no direcionamento e na precisão dos seus planejamentos.

Usar sistemas que permitem alta flexibilidade, possibilidade de rapidamente fazer alterações e atualização das informações para aprimorar as análises econômico-financeiras, como o Optimal Formula, é crucial para uma operação mais previsível e rentável. O software vai transformar em processos e dados a sua metodologia de gestão e planejamento, facilitando, assim, o monitoramento dos diferentes níveis de composição e inclusão